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(Foto: Carlos Garcia/ Reuters) |
Um ano de tensão, 42 mortos, milhões de dólares perdidos e ausência de melhores perspectivas são as consequências da instabilidade política na Venezuela
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Por Diogo de Souza, para a Folha Social
Um ano de tensão, 42 mortos, milhões de dólares perdidos e ausência de melhores perspectivas são as consequências da instabilidade política na Venezuela, desde que os protestos se iniciaram. O que começou como movimentos de universitários contra a elevada inflação, o desabastecimento de certos produtos e, sobretudo, a violência- uma das cinco maiores do mundo- ganhou dimensões nacionais depois da severa e truculenta repressão das entidades policiais e que um setor da oposição, o partido conservador Voluntad Popular, liderado por Leopoldo López, passou a defender a derrubada abrupta do governo. As manifestações cresceram e originaram embates entre chavistas e opositores (acentuando a polaridade na sociedade venezuelana) e um racha na coalizão direitista Mesa da Unidade Democrática (MUD), que possui Henrique Capriles como principal dirigente.
É importante frisar que tais problemas não são recentes naquele país. A inflação acima dos dois dígitos ocorre há mais de duas décadas, os índices de criminalidade sempre foram altos e enfrentaram escassez de alimentos entre 2002 e 2003(locautes tentando derrubar Hugo Chávez), solucionados por meio de subsídios e programas de alimentação. Todavia, a forte divisão em que se encontra nosso vizinho (por exemplo, as eleições presidenciais foram definidas por uma diferença de 1,59% votos dos votos- 235 mil eleitores) fez eclodir um cenário com frequentes confrontos. A insatisfação das classes altas, somados ao modo como o governo tratou a questão e ao nível de organização dos grupos sociais elevou tudo a disputa entre projetos de poder e suas propostas. Daí, em lugar de cuidar das alternativas imediatas para as dificuldades iniciais, acirrou-se a disputa política, comparando quem possui efetivas condições e consistência para resolver esses itens no longo prazo. Tudo isso somente piorou o cenário.
Nesta crise, os dois lados erram muito em supervalorizar os próprios interesses. Inexiste real esforço de negociação, há um choque de forças visando adquirir o saldo político da situação atual. Ambos almejam atribuir aos adversários a culpa dos tumultos e mortes causados. Buscam demonstrar à respectiva base de apoio uma interpretação maniqueísta dos fatos, em que a saída de tal quadro apenas é possível pelo enfraquecimento do oponente. A cooperação, os acordos, a volta à normalidade fica em segundo plano. O importante, no momento, é evidenciar as fraquezas do rival. Com uma pequena retrospectiva, entende-se como se chegou a esse ponto.
Conhecendo a história venezuelana percebe-se que até 2003 os blocos da oposição não participavam ativamente do jogo democrático. Diziam-se sabotados, criticavam as instituições e recorreram a três tentativas de golpes de Estado. Aliás, após a vitória de Nicolás Maduro, em abril de 2013, por seis meses, Capriles organizou protestos afirmando que havia um presidente ilegítimo em seu país (apesar do reconhecimento internacional ao processo eleitoral realizado). Só parou após perder o pleito municipal em dezembro do ano passado, o qual chamou de “plebiscito” para verificar se o socialista realmente contava com o apoio da maioria da população. Porém, nem todos concordaram com essa medida pacífica e Leopoldo López abertamente defendeu a violência como forma de tomar o poder, rompendo com os demais partidos da MUD. Uma sequência de fatos lamentáveis. Utilizando esses dados, Maduro começou a defender a tese de que estaria sofrendo um “golpe de Estado suave”, na prática recorreu a uma situação hipotética como tática para ocultar sua real capacidade de enfrentar os problemas denunciados nas manifestações. Resumindo: a oposição se aproveitou da insatisfação social para promover instabilidade, tornar a Venezuela desequilibrada, impedindo Maduro de executar o programa de governo e assim derrotá-lo nas eleições próximas. Por outro lado, o presidente se mostrou indiferente as questões apresentadas, realizou acusações sucessivas, optou pelo confronto, aumentando em vez de resolver os conflitos. Com isso, estenderam-se por meses e ainda sem previsão de término as manifestações violentas. Infelizmente, a imprensa internacional é inimiga da revolução bolivariana, é parcial. Os países agem como aliados cegos ou adversários golpistas, sedentos por petróleo. Da mesma forma, simpatizantes e contrários ao socialismo do século XXI deixam de reconhecer defeitos em si e méritos no outro. E com toda essa divergência, os problemas são ampliados e quem perde é toda aquela população, vermelhos e azuis, pobres e ricos, prós e contras o governo. Quando o ódio ideológico domina alguém a ponto de se sentir constrangido ao dizer: “Concordamos” “Cedemos” “Você está certo” “Assumimos nossa responsabilidade” “Reconhecemos a opção expressa nas urnas” “Não se rompe com a democracia”.