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Eduardo Marinho |
Eduardo Marinho escreve
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Engraçada a manifestação dos médicos. Há centenas de municípios que não tem médico, pelo Brasil afora. Mesmo oferecendo salários absurdamente altos – até 20 mil reais, pelo que vi por aí – não aparece ninguém a fim. Querem ficar nos grandes centros, aglomerados onde podem atender no particular. No setor público, o desinteresse e a arrogância prevalecem, quem usa o serviço público de saúde sabe muito bem como é. Consultas, com seis meses de espera ou mais, duram quinze minutos e o médico nem olha na tua cara, passa uns remédios, pede uns exames e mais meses pra nova consulta. Quem morrer, morreu. Pra mim, é uma estratégia pra matar os velhinhos pobres, assim o Estado deixa de pagar suas aposentadorias.
Não é que não existam bons profissionais. São raridade, mas existem e são os mais sacrificados. Querem servir, têm a vocação e o amor à humanidade, mas não encontram condições de trabalhar, falta de tudo no sistema de saúde (que deveria se chamar “de doença”). Mas não é desses que falo aqui.
Essas manifestações orquestradas pelos conselhos de medicina, tanto federal quanto os estaduais, visam impedir a vinda dos médicos cubanos – apesar deles dizerem estrangeiros, aproveitando que há portugueses e espanhóis desempregados no pacote. Em Cuba não há médicos desempregados – é o país com mais médicos por habitante das Américas, o menor índice de mortalidade infantil, sem desnutrição nem infantil nem adulta. Desqualificam a medicina cubana como desqualificam o MST e os movimentos sociais, pelo motivo mais óbvio do mundo – é uma medicina baseada no ser humano, no amor, no cuidado verdadeiro. E os dados da ONU estão aí, apresentando esses motivos que são escondidos pela mídia e desprezados pelos médicos formados com o patrocínio dos laboratórios farmacêuticos e indústrias da medicina privada – sem falar nos planos de saúde. Lá a medicina é preventiva, usa o mínimo de medicamentos necessários, corrige hábitos de alimentação e comportamento na conservação da saúde e não cobra consulta nem tem lucros com remédios, que são passados a preço de custo, com fabricação do Estado. Por isso tanto ódio, isso não interessa à ânsia de lucro. Aí é que brotam os sentimentos ensandecidos de repulsa.
Engraçado ver o proveito que se tira dos movimentos de insatisfação. E dá pra perceber a diferença, claramente. A polícia chegou pra proteger a manifestação dos médicos, que não sofreu nenhum tipo de repressão – só isso aí já diz tudo.
É como as manifestações dos caminhoneiros. Entre outras coisas, querem eliminar o descanso obrigatório a cada 4 ou 6 horas. Pode isso, os trabalhadores querendo aumentar a carga horária e um descanso saudável que evita acidentes? Quando ouvi de um manifestante, num dos bloqueios de estrada, a reclamação de que a federação das empresas de transportes estava atrasando as quentinhas, entendi a parada. São os patrões quem tá por trás disso.
É preciso separar o joio do trigo. E, se depender desse Estado refém dos interesses econômicos, fica o joio e o trigo vai pro lixo. Os interesses empresariais são o joio. O ser humano é o trigo. A minoria dominante ainda não pode ser considerada humana, com tanta desumanidade implantada na estrutura social a seu serviço. Os movimentos não podem parar.